sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

O sotaque da Net

A Net entrou na onda do serviço automático de atendimento. Antes, quando o sinal caía, era preciso ouvir o lenga-lenga de "para reclamar, tecle um", para "assinar serviço, tecle dois" e daí por diante. Agora, a empresa das organizações Globo atende com uma simpática gravação, daquelas em que o assinante é obrigado a dizer o que deseja.

"Bom dia, a Net agradece sua ligação"

É claro que a mensagem segue o sotaque da matriz, São Paulo, e tem dificuldade para reconhecer jeito carioca de falar. O sotaque paulistano é demonstrado logo no começo da explicação do serviço, após o bom dia da Net. Como todo nascido em Sampa, a frase é iniciada e pontuada por "intão". Anasalado, obviamente.

"Intão, você pode me dizer o que deseja?"

Já irritado com a falta de serviço, o "net" carioca praticamente chega ao desespero com essa espécie de letra maiúscula das frases de São Paulo.

E não tente falar com a máquina qualquer palavra terminada em S. O chiado da malandragem-otária carioca não é reconhecido.

"Problemash na conexão e no netchi fone"

"Intão, você pode repetir? "

Falando como um torcedor do Palmeiras ou do Corinthians, o serviço segue até, finalmente, uma pessoa de verdade falar contigo.

"Intão, senhor Marcelo, a Net agradece a sua ligação e lhe deseja um bom dia"

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

METAL!!!!

Globalização é isso aí:


segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

O bicho do viado.

Ele é pedreiro e, como tal, não ganha bem. Como tal também faz o papel de macho. Afinal, o trabalho é pesado, cheio de homens em volta, com mulheres passando nas ruas das obras. Para se afirmar, é preciso afirmar a masculinidade. Assoviar para a morena, cuspir no chão, falar de futebol em alto e bom som.

Qual não foi a surpresa de seus companheiros de trabalho quando, no meio do descarregar de um caminhão, ele comentou:

-- Adoro o viado. Ele nunca me fez tão bem.

Com certeza o orçamento da obra não previa uma parada tão intensa nos trabalhos. Os peões interromperam seus afazeres e começaram a perguntar, abestalhados, "como assim?! Tá maluco?!". O engraçadinho, lá atrás, solta um "finalmente ele admitiu".

O pedreiro simpatizante então se explica:

-- É sério. Outro dia um viadinho no ônibus começou a me dar mole. Piscava, acenava, sorria. E eu, lá, puto da vida com a biba. Ela continuou, já estava prestes a levantar e dar uns tabefes nela -ou nele- sei lá, quando chegou o meu ponto e desci. Ela -ele- (irritado com as piadinhas e histórias que surgiram) ficou por lá.

"Ah, então foi paixão", gritaram os demais.

-- Nada, pô. Em frente ao ponto de ônibus tem uma banca do bicho. Pensei comigo, depois de tanto esse viado ficar me dando mole, algo tem que salvar meu dia. Vou fazer uma fezinha.

Que outro número podia ele apostar que não o 24? Foi o que fez. Pegou R$ 100, de irritado que estava com a insinuação (nunca fora vítima, sempre algoz.) e falou ao apontador:

-- Tudo no viado.

No dia seguinte, antes de ir ao trabalho, foi conferir o resultado. Pregado na árvore em frente ao ponto de ônibus, estava o papel com o código. Deu veado.

O mundo ganhava mais um simpatizante. E a obra, mais uma piada. E uma rodada de cana no fim do expediente.

Macho que é macho bebe cana, é bom deixar claro.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Cena carioca



Sinal fechado, 19 horas, Copacabana. A esquina lotada espera que o homem verde aparecer no semáforo para cruzar a pista. Todos ansiosos, querem chegar em casa. A pé, de bicicleta, de ônibus. A esquina está cada vez mais lotada faz alguns pisarem na rua. Um muxoxo --tsc, tsc-- pelo empurrão.

Alguém pega um cigarro. Quer relaxar, fazer o tempo passar enquanto carros e ônibus se sucedem na rua. O isqueiro, a chama, o primeiro trago, a primeira baforada. Um relaxamento. Logo adiante, outro muxoxo.

Uma tosse.

Um cuspe.

Um grito: "essa fumaça toda! Assim não dá!"

Outra tosse.

Outra cusparada.

Mais uma baforada despreocupada.

Um desabafo: "meu pulmão não é pinico! Vai fumar dentro de casa, desgraçada".

O sinal abre, todos atravessam com passos rápidos. A fumante toma a dianteira. O incomodado continua reclamando.

E todos seguem até a próxima esquina e a próxima reclamação.

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

A genialidade de Pelé

Não é só de dribles e gols que se faz o futebol. O esporte também é feito de malandragem e idolatria. Veja o vídeo abaixo e imagine se as mesmas pessoas dariam as mesmas declarações se o jogador fosse qualquer outro. "Coisa linda de se ver", como disse o Paulo César Caju. Ou, a "cotovelada perfeita".