segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

O bicho do viado.

Ele é pedreiro e, como tal, não ganha bem. Como tal também faz o papel de macho. Afinal, o trabalho é pesado, cheio de homens em volta, com mulheres passando nas ruas das obras. Para se afirmar, é preciso afirmar a masculinidade. Assoviar para a morena, cuspir no chão, falar de futebol em alto e bom som.

Qual não foi a surpresa de seus companheiros de trabalho quando, no meio do descarregar de um caminhão, ele comentou:

-- Adoro o viado. Ele nunca me fez tão bem.

Com certeza o orçamento da obra não previa uma parada tão intensa nos trabalhos. Os peões interromperam seus afazeres e começaram a perguntar, abestalhados, "como assim?! Tá maluco?!". O engraçadinho, lá atrás, solta um "finalmente ele admitiu".

O pedreiro simpatizante então se explica:

-- É sério. Outro dia um viadinho no ônibus começou a me dar mole. Piscava, acenava, sorria. E eu, lá, puto da vida com a biba. Ela continuou, já estava prestes a levantar e dar uns tabefes nela -ou nele- sei lá, quando chegou o meu ponto e desci. Ela -ele- (irritado com as piadinhas e histórias que surgiram) ficou por lá.

"Ah, então foi paixão", gritaram os demais.

-- Nada, pô. Em frente ao ponto de ônibus tem uma banca do bicho. Pensei comigo, depois de tanto esse viado ficar me dando mole, algo tem que salvar meu dia. Vou fazer uma fezinha.

Que outro número podia ele apostar que não o 24? Foi o que fez. Pegou R$ 100, de irritado que estava com a insinuação (nunca fora vítima, sempre algoz.) e falou ao apontador:

-- Tudo no viado.

No dia seguinte, antes de ir ao trabalho, foi conferir o resultado. Pregado na árvore em frente ao ponto de ônibus, estava o papel com o código. Deu veado.

O mundo ganhava mais um simpatizante. E a obra, mais uma piada. E uma rodada de cana no fim do expediente.

Macho que é macho bebe cana, é bom deixar claro.

Nenhum comentário: